sábado, 6 de outubro de 2007

A minha mudança radical... (quem me dera que não fosse)



















Em finais de Novembro de 2006 fui operada de urgência a uma situação de hemorragia medular grave que teve como consequência, além de outras, a perda funcional dos membros inferiores, ou seja, deixei de conseguir andar. E não foi uma situação temporária já que no presente momento ainda o não consigo fazer. Tenho esperança de o voltar a fazer no futuro, mas sei que ainda vai demorar bastante.



Ora quando tudo aconteceu entrei num período violento de revolta. Porquê eu? Porquê aquilo? Porquê agora que estava tão bem na vida, com um emprego que adoro e onde me sinto super bem, quando fui promovida, quando já tinha decidido o que fazer na vida, porquê agora? E as pessoas que fazem tanto mal aos outros nada de ruim lhes acontece, e eu que não faço mal a uma mosca logo isto me acontece. PORQUÊ???? Foi uma situação muito violenta e difícil de suportar.



Estive entretanto internada durante 5 meses em Alcoitão, período em que a minha revolta, dor, sofrimento, negação de tudo, incluindo da cadeira de rodas continuou a todo o vapor. Estava tão desesperada que não conseguia ver luz ao fundo do túnel. Aliás, nem sequer via o túnel. Só conseguia ver e sentir o meu turbilhão de sofrimento crescente.
E foi duro, foi tão duro. Ainda é. Ainda choro muito porque vejo as ruas por onde antes caminhava, porque vejo o meu local de trabalho, vejo as lojas onde antes entrava, vejo os locais que antes eram meus... sim, porque eu adoro andar a pé, explorar, caminhar, ter liberdade de movimentos, de espaço e de tempo... e agora nada!!
E agora nada!!!



E ao contrário do que se pode pensar, e ao contrário daquilo que se pode dizer (ou que alguns dizem), isto não fica mais fácil com o decorrer do tempo. Não fica mesmo!! A dor é uma constante em existência e em profundidade, a angústia é a companheira de todos os dias, a amargura a companheira de todas as horas, e a perplexidade a companheira de todos os minutos. Como é que isto me foi acontecer, a mim?? A mim??? A mim não!!!!



Já me disseram que isto aconteceu porque tinha de acontecer... imaginem o que é alguém dizer isto assim. Aconteceu porque tinha de acontecer. Pior, porque fui eu que atraí isto para mim!! Parece de loucos, certo?? Então vou atrair para mim eventos maus, negativos, que causam incontável sofrimento? Não tem lógica, não tem propósito, não tem nada. É de doidos, no mínimo!
Mas o que é certo é que quando mo disseram não percebi, não acreditei e muito menos aceitei. Mas calei! Ouvi e nada disse, ou melhor, acho que até disse algo do género "-Ah foi? Então tiveram que me parar? Mas porquê?... Ah, então está bem... pois...".



Mas não está nada bem!!! Não está!! Isto não me devia ter acontecido, não a mim, não agora, não assim, de forma tão violenta e brutal. Não a mim!!!
E a dor continua sempre tão presente, tão viva, a garganta sempre apertada, o coração sempre dorido, a rebentar, e as imagens, as memórias sempre a surgirem na minha cabeça, os sons, os sabores, os cheiros do antes, tudo, tudo!!
E agora o que tenho?? O que sou? Quem sou? O que faço? O que me espera? Como vai ser a minha vida? E que vida?
Não consigo imaginar-me presa (é essa a palavra, a sensação, aquilo que me tira o ar, me aperta o peito, me estrangula a voz, me faz tremer e dissolver em lágrimas por dentro... Presa!!!). Isso não, por favor!!



As cadeiras de rodas e afins só devem estar associadas a pessoas muito idosas e muito doentes, não, nunca, nunca a pessoas jovens com planos para a vida, a iniciarem essa vida, com um futuro promissor, com caminhos certos e errados pela frente, com escolhas próprias, com alegrias e tristezas, mas não isto, isto não!!!!



TENHO SAUDADES DE ANDAR NORMALMENTE COMO ANTES FAZIA!! TENHO SAUDADES DE MIM, DAS MINHAS PERNAS A ANDAREM COMO TEM DE SER, COMO AS PESSOAS NORMAIS.
TENHO MUITAS SAUDADES DE MIM!!!

AnaIsabell Garcia.

AS ESTRELAS SÃO BELAS POR CAUSA DE UMA FLOR QUE NÃO SE VÊ...




"As estrelas são belas
por causa de uma flor que
não se vê...

Quando olhares o céu de noite...

Porque habitarei uma delas...

Porque numa delas estarei rindo...

Então será como
se todas as estrelas te rissem,
e tu terás estrelas que
sabem rir.

(Saint Exupèry)