domingo, 20 de janeiro de 2008

Não existem ideais!


Aceitar que nem sempre os fatos se desenrolam como programamos é uma aprendizagem das mais difíceis, que requer maturidade, bom senso e sabedoria.


Uma das situações em que a ilusão mais se manifesta, é na relação afectiva. Muitas pessoas se recusam a enxergar as atitudes do outro de forma realista, e ao invés de exigirem respeito e atenção, ainda tentam justificar as desculpas esfarrapadas que ele lhes apresenta para não agir de maneira correcta.


Outras não conseguem aceitar o fim de um relacionamento com serenidade e - o que é pior - ao serem rejeitadas, adoptam uma atitude de culpa e tendem a buscar em si mesmas um defeito ou um erro que justifique o abandono. Ou seja, sempre se consideram as responsáveis pelo fato de terem sido deixadas, numa clara demonstração de baixa auto-estima.


Para que uma relação frutifique é necessário que ocorra uma sintonia, tanto em nível físico, como de alma. Esta sintonia é um mistério, e depende de uma série de factores, muitos deles inconscientes.


Com algumas pessoas ela se dá de imediato, com outras vai surgindo aos poucos e se torna cada vez maior e em alguns casos, se revela um engano, já que a atracção inicial vai se reduzindo pouco a pouco.


Este processo ocorre em todos os relacionamentos e o fato de alguém não desejar mais estar connosco não implica necessariamente no fato de que temos algum defeito. Podemos simplesmente não ter correspondido à imagem idealizada que ele tinha da pessoa que buscava para se relacionar. Ou simplesmente ele pode ter dificuldades emocionais sobre as quais não teremos jamais qualquer controle.


Desenvolver uma autoconfiança que nos torne capazes de aceitar com serenidade uma rejeição é a única forma de escaparmos da perigosa armadilha da ilusão.


Em alguma tardezinha encantada, você irá encontrar a sua alma gémea, a pessoa perfeita que corresponderá a todas as suas necessidades, e será a concretização de todos os seus sonhos. Certo? Errado!


Essa fantasia que os cantores e os poetas gostam tanto de perpetuar tem suas raízes em memórias do útero, onde estávamos tão seguros e "unificados" com nossas mães; não é de admirar que sejamos obcecados por retornar a essa condição durante toda a nossa vida. Mas, falando numa linguagem crua, é um sonho infantil. E é surpreendente que nos apeguemos a ele com tanta teimosia, diante da realidade.


Ninguém, seja o seu actual companheiro ou alguém com quem você sonha no futuro, tem a obrigação de trazer-lhe à felicidade numa bandeja - nem poderia, ainda que quisesse.


O amor verdadeiro não advém de tentativas de satisfazer nossas necessidades por meio da dependência com relação à outra pessoa, mas por meio do desenvolvimento da nossa riqueza interior, e do nosso amadurecimento. Com isso, passamos a ter tanto amor para dar, que amantes serão espontaneamente atraídos por nós.